Os meus ouvidos captaram e a minha atenção concentrou-se quando as notícias desta semana se referiram repetidamente ao “trambolhão” que os lucros obtidos pelos principais bancos portugueses tinham dado, de 2010 para 2011. Depois, lá vieram os números a fazer tudo regressar à velha ordem: de um lucro de 3 milhões de euros diários em 2010, ficaram-se por enquanto, este ano, por uns míseros 2 milhões...
E a pergunta continua a fazer sentido: Se não têm para o crédito, se precisam de encaixar mais 12 mil milhões, a sacar do empréstimo contraído ao FMI e à UE (fora os avales), para onde vai o dinheiro?
Quando se constata que, paralelamente aos sacrifícios sucessivos e imparáveis, por via dos cortes nos salários e pensões e do aumento dos impostos (aprovando até mais um extraordinário), exigidos àqueles que, pelo esforço do seu trabalho, criam riqueza (ou já a criaram), existem, por outro lado, alguns que a acumulam (isto é, que a tomam para si), registando-se em 2011 um enriquecimento adicional de 18% dos 25 portugueses mais ricos, começamos talvez a levantar a ponta do véu…

Quando lemos notícias que nos dizem que a verdadeira intenção do governo de Passos Coelho é acabar, até 2013, com as indemnizações por despedimento; quando nos dizem que, afinal, o BPN vai ser “vendido” por 40 ME, depois de ter custado ao Estado bastante mais do que dois milhares de ME; quando o governo anuncia a intenção de privatizar a correr magnificas Empresas Publicas, criando espaço para que se verifique um verdadeiro assalto ao sector empresarial do Estado, com preços abaixo do preço da mais “reles uva mijona”; quando somos informados que afinal os dez portugueses mais ricos viram as suas fortunas escandalosamente aumentadas em 2010, ano “muito difícil” no dizer dos “analistas” de serviço; quando tudo isto acontece temos que concluir que o rumo que está a ser imposto ao País traça um muito obscuro e indefensável caminho para um passado de exploração, aproveitamento ilegítimo e espoliação dos bens públicos que não podemos aceitar.