
Nos últimos meses quase só se fala da crise. Percebe-se que assim seja, pois o que se está a passar ultrapassa muito uma mera crise económica e financeira e situa-se no plano de uma profunda luta política e ideológica, na qual os detentores do poder na Europa e os EUA, agindo em obediência ao grande capital financeiro internacional, estão a procurar impor o reforço da exploração com a eliminação de conquistas civilizacionais e direitos sociais e laborais conquistados no século XX.
Estou a escrever este texto num dia, ainda relativamente quente, mas marcado por um vento muito forte e um mar tempestuoso. O vento forte faz lembrar a onda de retrocesso reaccionário que assola o nosso País e a Europa. O mar tempestuoso, aterrador para quem nele navega, assemelha-se ao ambiente de insegurança lançado na nossa sociedade por esses que querem fazer vingar o retrocesso da História. Só que para todos os marinheiros enfrentar o vento e vencer o mar é, sempre, o objectivo que se visa e do qual se quer sair vencedor! Assim terá que ser na nossa vida colectiva.
Li há dias o “Documento Verde da Reforma da Administração Local” e a minha primeira e principal reacção a este documento governativo, que revela as intenções do governo em relação ao Poder Local Democrático, é a de que se trata de um enorme “monumento” ao oportunismo político e à hipocrisia!
De facto quase tudo o que lá está visa diminuir a participação das populações na actividade dos Órgãos do Poder Local; visa diminuir drasticamente o número de Autarquias; visa desresponsabilizar progressivamente o Estado no financiamento do Poder Local e transferir essa responsabilidade para as comunidades locais; visa diminuir de modo muito forte a pluralidade política das Autarquias Locais; visa, numa palavra, diminuir a democracia local em todos os sentidos.