A actual coligação da direita no poder na Republica tem poder institucional e votos suficientes para aprovar no Parlamento as medidas que estão contidas no chamado “acordo” de concertação social, mesmo que não houvesse qualquer acordo naquele organismo consultivo. Não obstante isso, e com a colaboração do Presidente da Republica, foi desenvolvida uma manobra no sentido de “criar condições” para que a direcção da UGT assinasse o dito “acordo”.
O governo deixou cair a meia hora de trabalho a mais e, em substituição, meteu um conjunto incrível de medidas que, no seu todo, constituem um enorme insulto a todos os que vivem de rendimentos do trabalho. A direcção da UGT, sem surpresa para mim, subscreveu todas essas medidas, consumando assim uma gigantesca traição que não deixará de ter, necessariamente, reflexos na vida futura daquela estrutura que se intitula de sindical.

A fazer fé que a concertação social, nos dias de hoje, poderia constituir um terreno leal de luta perseguindo um amplo consenso de combate à crise e a repartição justa entre patrões e trabalhadores dos sacrifícios impostos pela austeridade, compreender-se-ia que, em defesa dos trabalhadores que representa, João Proença, o líder da União Geral de Trabalhadores (UGT), em lugar de a abandonar, como fez o líder da CGTP Carvalho da Silva, permanecesse na reunião da concertação social noite dentro para tentar dar a volta às iníquas e parciais propostas que estavam em cima da mesa, avançadas pelos representantes de Passos Coelho e do grande patronato, e jogar ao longo da madrugada com a imensa vontade do Governo PSD/CDS de encenar (para os mercados e para o mundo, como disse o ministro da bicicleta/Audi de última geração) um amplo consenso de suporte para uma determinada e cada vez menos consensual maneira de combater a crise que ele persiste em praticar.