Um amigo lembrou-me não considerar inocente que o Governo Regional pagasse os subsídios de férias (definhados por uma imensidão de descontos ordinários e extraordinários) na data prometida, e logo de seguida decretasse o aumento do preço de todos os combustíveis…Mal entram por um lado, e já mancos de origem, começam a ser cobrados por outro. Nada como o Verão para enfiar a bucha aos contribuintes sem que eles estejam muito despertos para refilar. Mas, enfim, toda a política mais baixinha fosse esta, pois os atingidos por ela, embora depauperados, sempre registaram de forma conjuntural alguma recuperação de rendimentos que, não fora o Tribunal Constitucional, lhes teriam sido irremediavelmente roubados.
Mas, em termos de política baixa, diria mesmo rasca, a parada sobe de tom com a birra repulsiva do governo PSD/CDS de, com laivos de asqueroso revanchismo, procurar humilhar as vítimas da tentativa de roubo que o Tribunal Constitucional condenou, dizendo que tem dinheiro para os subsídios, mas só os pagará em Outubro, ou enquanto humilha os Açores, aumentando-lhes os impostos, via nova Lei de Finanças Regionais, unilateralmente alterada.
E da política rasca, o tom continua a subir, dinamitando a tão apregoada estabilidade política através sucessivamente da saída do ministro Gaspar, da demissão irrevogável de Portas e da teimosia patológica de Passos ao vir para a arena da contenda afirmar, contra a vontade de 88% dos portugueses (segundo as últimas sondagens): “Eu fico!”. Tudo isto em nome do interesse nacional, onde só um tipo de instabilidade política era considerado como tal pelos verdadeiros desestabilizadores: as eleições gerais antecipadas. Pergunto eu: Terá o interesse nacional algo a ver com o estoirar de tanta birra interna e tanta instabilidade política como aquela que deflagrou por mão dos que no dia anterior recusavam em absoluto a hipótese de eleições? Certamente que não. Sou daqueles que consideram esta gente como não tendo formação moral nem ética políticas que os tornem capazes de assumir o interesse nacional acima de todas as coisas. Se após tudo o que aconteceu, em lugar de se demitirem ou serem demitidos, como se impunha, optaram por se alapar ao poder ainda com mais força, é porque serão agentes de outros interesses decerto contraditórios com os interesses do país...
E serão estes politiqueiros desavindos, embirrentos, mentirosos e mesquinhos, que não têm ninguém que os ponha na rua (a não ser, mais tarde ou mais cedo, o povo e a expressão da sua vontade), que irão ser capazes de, como dizem, abrir “um novo ciclo” para o crescimento económico e o combate ao desemprego? Pelo menos assim o considera o presidente Cavaco, após a sua jogada absurda e inútil, que durou uma semana, de igualmente mesquinha afirmação perante Portas e Passos Coelho, a que chamou de acordo troikista tripartido de “Salvação Nacional” (provocando o prolongamento da instabilidade política por sua livre iniciativa), pois veio de novo rejeitar ouvir o Povo em eleições, alegando a instabilidade política que estas iriam criar (veja-se a lata), e dizer, qual superministro do governo PSD/CDS, que um novo ciclo de estabilidade será assegurado por tal governo, com recauchutagem autorizada e por ele próprio anunciada.
Ou seja, após umas semanas de foguetório à mistura com política mesquinha, e até que o Povo, no interesse nacional, decida pôr esta gente na rua, os “mercados” (únicos interessados a que realmente Cavaco se referiu) puseram em Portugal os seus agentes e a casa em ordem, e determinaram, chamando-lhe “novo ciclo”, que toda a política destrutiva que vinha sendo seguida continuasse na mesma e mais forte, ou seja, os juros a baixar e o empobrecimento, o desemprego e a recessão a aumentarem sem fim à vista…
Artigo de opinião de Mário Abrantes, publicado em 24 de julho de 2013