Uma visita insipida

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Mário AbrantesDeixando no Terreiro do Paço, apadrinhados por si, uma ditadura de mercados e um governo (de “canalhas”, como foi classificado por Samuel, um cançonetista e um pensador português da actualidade) com ordem para escavacar tudo o que é Estado (incluindo as Autonomias Constitucionais) sem deixar nada no lugar daquilo que existia, em nome de uma abençoada e impagável dívida, veio candidamente de visita às ilhas mais pequenas dos Açores o Sr. Presidente da República, segundo ele para “dar uma ajuda ao reforço da coesão nacional”.

Bem-vindo Sr. Presidente! Que a estadia lhe faça muito bom proveito, pelo menos que o ajude a si a compreender certas coisas (sem preconceitos centralistas), já que os açorianos e a coesão interna ou nacional, mau grado a boa vontade expressa, muito provavelmente pouca ajuda dela virão a tirar…

Oxalá me enganasse, e que ao fim dos cinco dias protocolares pudéssemos ouvir da boca do Sr. Presidente da República verdadeiros e elementares contributos para o reforço da coesão regional e nacional, como sejam:

- A referência à importância da RTP/Açores e à necessária melhoria da eficácia do seu papel, enquanto serviço público descentralizado da responsabilidade do Estado, para a afirmação da identidade açoriana no contexto nacional;

- A referência à bondade e aplicabilidade integral da Lei de Finanças Regionais como instrumento fundamental de salvaguarda da coesão económica nacional no contexto de uma região ultraperiférica, distante e espartilhada fisicamente por nove ilhas;

- A referência ao exagerado e discriminatório custo das passagens aéreas de e para os Açores que afectam negativamente, quando não bloqueiam mesmo, a economia e o desenvolvimento integrado destas ilhas;

- A referência, como questão não só regional mas nacional relevante, à necessidade de medidas políticas concretas para inverter a sistémica e desastrosa tendência de desertificação e decréscimo de actividade que se verificam nas ilhas que agora visita.

Ouviremos?

O estimado leitor que me perdoe o cepticismo, mas creio que não!

Entretanto César ganha com esta visita um aliado na oportunidade de deixar para trás das costas, pelo menos por agora, o exponencialmente grave aumento do desemprego verificado em contínuo na Região; o número recorde (50 mil) de açorianos a ter de viver com pouco mais de 400 euros por mês; as escolas a fechar e os serviços de saúde a minguar.

E sobretudo um aliado para a proposta de um compromisso que a ponta do véu levantada por Sérgio Ávila deixa no entanto ainda (negativamente) encoberto: As orientações de controlo orçamental previstas no memorando de entendimento que o Governo Regional pretende acertar com a República e que os açorianos têm todo o direito de conhecer na sua plenitude...

 

Artigo de opinião de Mário Abrantes