As medidas

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Mário AbrantesAngela Merkel aconselha os portugueses a não se preocuparem com as agências de rating. Se o resgate das dívidas tem sido um excelente negócio para a Alemanha, segundo um dos próprios membros da troika - o Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF), proporcionando àquele país uma fatia de leão no encaixe dos juros especulativos que eles mesmos impuseram a Portugal, à Grécia e à Irlanda (para lhes emprestar dinheiro), porque haveriam os alemães e os credores da dívida portuguesa de manifestar-se preocupados com o lixo a que nos remeteram. O negócio é a própria dívida…e as medidas, sobretudo as MEDIDAS! Aquelas que têm de ser cumpridas pelos portugueses (exceptuando os detentores de juros, dividendos ou lucros, claro) para fingir que se esforçam por pagar um montante que o Estado efectivamente nunca deveu e muito menos pode pagar. E os cúmplices para o negócio encontraram o governo alemão e os grupos financeiros europeus que o suportam, nas pessoas de Sócrates, Passos Coelho e Paulo Portas que, de forma brilhante diga-se, encenaram eleições à pressão, escondendo o negócio dos eleitores (não será o segredo a sua alma?), para agora poderem afirmar que o contrato não foi entre eles, contra o povo português, mas entre eles… e o povo português!

E assim, as medidas (sobretudo as MEDIDAS) que, assumindo carácter criminoso até nalguns casos (como foi os das Golden Shares ou será o das privatizações), pouco importa se são eficazes para tapar dívida alguma (deixando até em dúvida ser essa a justificação de umas tantas), ficam no entanto “justificadas” à partida, e podem até ir mais longe que o inicialmente acordado, porque se vão apresentando como sendo para pagar uma dívida crescente e florescente que ao povo vai sendo indexada e da qual este não tinha consciência antes. Basta aos cúmplices anunciar que afinal se descobriu mais um buraco de dois mil milhões, e mais medidas haverá que tomar. Basta aos cúmplices “detectar” mais um deslize no défice público de um qualquer trimestre, que as medidas acrescentadas aí estão para o tapar, em 2011, em 2012, em 2013 e por aí fora…
Mas os cúmplices portugueses deste negócio desastroso para Portugal, não assumiram sozinhos a sua cumplicidade, arrastaram consigo os restantes dirigentes dos seus partidos. A César, a Berta Cabral e a Artur Lima assistia-lhes a possibilidade de, defendendo a Autonomia Constitucional, se desvincularem de um compromisso essencialmente anti-patriótico e ofensivo para a Região, para o seu Estatuto Autonómico e para a Lei de Finanças Regionais. Não foram obrigados por ninguém. Optaram por abraçar de livre iniciativa, também eles, o acordo para o negócio…e para as medidas!
Será de estranhar então o silêncio complacente e sobranceiro de um Passos Coelho, perante a pretensão exibida por César em Lisboa de que as receitas do imposto extraordinário fiquem na Região? E, tendo legitimidade para o fazer, será César capaz de lutar consequentemente por um tal objectivo, sem romper com a sua livre adesão pessoal e partidária a um negócio e a medidas que prevêem exactamente o inverso?
E o emprego e a criação de mais postos de trabalho que Berta Cabral mais uma vez reivindicou, agora nas Flores, como alternativa à política do  governo regional? Por quanto tempo conseguirá Berta manter este discurso surrealista e oportunista cujo sinal é absolutamente inverso ao do negócio e às medidas que, também ela, abraçou de livre e espontânea vontade?
Tal como Macário Correia em relação às portagens no Algarve, hoje a conversa é uma, amanhã será outra…Mas as MEDIDAS, essas, são para cumprir enquanto a burra se aguentar sobre as patas!  

Mário Abrantes