Portugal no seu dia

MAbrantes2De preferência queremos um Portugal que não envergonhe os portugueses, nem portugueses que envergonhem Portugal. Desde logo um Presidente da República para todos os portugueses e que cumpra e faça cumprir a Lei Fundamental do País ao invés de um representante de fação ou de interesses partidários restritos e obscuros, contemporizando com sucessivas violações da Constituição praticadas pelo governo.
Não queremos mais um presidente que, advogando a participação ativa e incondicional de Portugal na NATO, ele próprio se queira sobrepor à Constituição quando esta preconiza a progressiva dissolução dos blocos político-militares, ou que, advogando a submissão incondicional de Portugal ao Tratado Orçamental e ao Pacto de Estabilidade da UE (nunca sufragados pelos portugueses), contrarie a obrigatoriedade ditada pela Constituição de serem respeitados os princípios básicos de um Estado soberano e de direito democrático.
Não queremos mais um presidente a interromper férias aos portugueses para os inquietar, de surpresa e a despropósito, com uma comunicação alarmista ao país sobre o Estatuto Político-Administrativo dos Açores.
Não queremos mais um presidente que por ocasião do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades decida condecorar gente cuja única grandeza não é a de servir Portugal e os portugueses, é a de manipular e ganhar fortunas com cambalhotas financeiras altamente lucrativas para alguns e desastrosas para muitos, como fez por exemplo com Zeinal Bava, no próprio mês em que este abriu um buraco de 900 milhões na PT para os entregar a um grupo do Espírito Santo que faliu pouco tempo depois. Como fez por exemplo com Miguel Horta e Costa no mesmo ano em que este antigo presidente da PT começou a ser investigado pelas autoridades brasileiras por corrupção no comércio internacional. Como fez por exemplo com António Horta Osório, presidente dum banco internacional - o Lloyds Bank, no mesmo ano em que este senhor apanhou a maior multa de sempre (160 milhões de euros) aplicada pelo regulador britânico pela forma como tratava as reclamações dos clientes...
Não queremos mais um presidente que por ocasião do 10 de junho, para além de um João Proença da UGT, não seja capaz de enxergar um pedreiro, um pescador, um trabalhador agrícola, um trabalhador da indústria ou do comércio e serviços, um trabalhador da saúde ou da escola, um sindicato, uma comissão de trabalhadores ou um grupo de trabalhadores dignos desse nome e que produzem a riqueza em Portugal ou para Portugal, merecedor ou merecedores de uma condecoração do seu país.
Por ocasião do 10 de Junho desejaria ver na República um presidente e um governo que enobrecessem o nome de Portugal não trocando a defesa da sua soberania e o cumprimento da sua Constituição pela aceitação resignada do lugar (curvilíneo e invertebrado) de parente pobre da União Europeia. Que se recusassem a mendigar autorizações externas para legislar favoravelmente à economia nacional, ao seu povo e à legítima recuperação de rendimentos que lhe foram sendo sistematicamente sacados nos quatro anos e meio que durou o anterior governo. Que não se dispusessem a acatar sem pestanejar orientações externas visando pôr os portugueses a pagar as tropelias e aventuras financeiras (impunes) da banca e instituições quejandas. Que se mostrassem indisponíveis para alienar e privatizar por tuta e meia o património público e o sector produtivo nacionais...
Não sei se, na República, o governo que temos ou o presidente que temos serão os mais desejáveis, mas seguramente piores e indesejáveis eram o governo e o presidente que assinalaram o 10 de Junho há um ano atrás.

 

Artigo de opinião de Mário Abrantes